Arthur Gimenes
Há muito tempo, na grande São Paulo, todos os cidadãos tinham medo de passar pela extensa Rua Carmem, pois lá era um lugar muito conhecido pelos seus famosos assassinatos que ocorriam há várias anos. A rua ficava próxima a delegacia e os policiais impressionados com a audácia do assassino o batizaram de O Ceifeiro.
O delegado de polícia, muito preocupado com a situação decidiu encaminhar a detetive Milena Ferreira para o caso. Poucos dias depois dela ser escolhida para liderar as investigações, mais um corpo foi encontrado em um beco.
A investigadora se aproximou do corpo e notou que a vítima tinha as mesmas características que as outras assassinadas e que os padrões dos ferimentos eram semelhantes aos dos outros corpos: cortes curvos e profundos, muito sangue esguichado para todos os lados. Imediatamente a investigadora foi entrevistar os civis que estavam observando a ação da perícia.
— Eu vi um homem alto com um casaco cinza escuro ou preto. E ele carregava algo escondido na roupa, achei muito estranho, mas há muitas pessoas excêntricas por essa região. – informou um homem.
Com poucas ideias, mas muita sabedoria, Milena decidiu visitar um velho conhecido colecionador de armas brancas. Miguel Soares era alto e desde pequeno estudava com o pai sobre armas usadas em outras civilizações.
Quando ela chegou à casa de Miguel, abraçou o homem que a convidou para entrar e lhe serviu uma taça de sangria.
— Você vai me dar a receita dessa sangria, não vai Miguel? Minha mãe misturava vinho, açúcar e água com uma ou outra especiaria. – observou – Você coloca algo mais, que deixa um sabor único.
— Sangue! – disse e ambos riram. – O que a traz aqui depois de tanto tempo?
— Você conhece alguma arma ou ferramenta que faça esse tipo de corte? – perguntou estendendo algumas fotos para o homem. Ele confirmou com a cabeça.
— Pertence há um tipo de foice, mas não tem como identificar qual delas. Existem vários modelos, tamanhos, marcas pelo mundo e há séculos elas são usadas. – disse lamentando-se.
Despediram-se e Milena dirigiu-se até a saída. Só então ela notou um grande casaco cinza pendurado atrás da porta e reparou que faltava uma das armas que Miguel costumava deixar exposta na parede.
Em choque Milena desconfiou que aquele gentil homem que conhecia há muito tempo podia estar envolvido nos assassinatos. Virou-se para ele e se despediu com um sorriso sem graça.
Naquela mesma noite uma jovem foi assassinada com requintes de crueldade, a arma usada era a mesma de outros casos. Todos os policiais repararam que a vítima se parecia muito com Milena.
Assustada com o que havia acontecido e a sensação que teve na casa de Miguel, Milena conseguiu um mandado de busca para a residência do homem e voltou lá com mais três investigadores e outros policiais.
Ao chegar na casa Milena notou que a porta está escancarada e entrou com arma em punho, mas com muita cautela. A casa estava toda revirada e havia sinais de luta, muitas das armas da coleção de Miguel haviam desaparecido, bem como o casaco atrás da porta.
A perícia coletou várias evidências, inclusive DNA humano, que mais tarde puderam observar que era de Miguel, de outro homem desconhecido e de pelo menos duas das vítimas do Ceifeiro.
Milena ainda ficou por semanas no caso, mas nem Miguel e nem o desconhecido foram encontrados. Os assassinatos da Rua Carmem pararam e mesmo sem ter como provar Milena teve certeza de que Miguel estava envolvido ou era o Ceifeiro.
A moça nunca mais chegou perto de uma taça de sangria.