Fale um pouco sobre você, deixe o leitor conhecer quem é a pessoa.
Sou psiquiatra, apaixonada por literatura. Comecei a amar os livros desde muito cedo, porque meu pai era escritor (mais de 40 livros publicados, 2 prêmios Jabuti), historiador e professor de Literatura, então nossa vida sempre foi imersa em literatura. Minha mãe é psicóloga, mas também teve desde sempre uma relação muito intensa com os livros, chegou a abrir uma livraria infantil quando eu era criança e é autora de dois livros. Então sempre tive isso de ler muito, e ler de tudo. Na vida adulta, depois de alguns anos exercendo Psiquiatria, comecei a ensaiar escrever, escrevi alguns poucos contos e guardei na gaveta. Durante a pandemia, acabei entrando numa oficina de escrita e, quando vi, estava escrevendo um conto por semana, no mínimo. Costumo dizer que fiquei viciada. Fiz cerca de um ano desta oficina de contos e desde então não parei mais, participei de oficinas de escrita criativa, romance, medicina narrativa (uma área de intercessão entre minhas duas paixões, Medicina e Literatura), e há 3 anos sou mediadora de um clube do livro, o Leia Mulheres Porto. Desde então ganhei alguns prêmios e seleções para coletâneas e revistas literárias (Prêmio Vip de Literatura 2018; IV Concurso Bunkyo de Contos; Concurso Das Telas às Letras 2021; Concurso literário SENAI/Cimatec 2021; Revista Gueto; Revista Subtextos). No fim de 2021, ganhei o primeiro lugar no Prêmio Paraná de Literatura com meu livro de contos “Coisas difíceis de ressuscitar”, e em 2023 ele foi publicado pela Caos e letras.
O que te levou a ser escritor? Quais as expectativas quando começou a escrever?
Não saberia responder o que me levou a ser escritora. É um chamado que surge e não dá pra recusar. Ele te toma e não te deixa outra saída a não ser escrever.
Se você for um autor com outros trabalhos publicados me conte um pouco da sua experiência, de como é a divulgação dos seus livros e contos. Você acha fácil a parte do marketing? Como estão suas expectativas hoje, referente ao mercado literário.
Tive a sorte de ser publicada por uma editor maravilhosa, a Caos e Letras. Eles fazem um trabalho impecável de editoração, design, projeto gráfico. Amei o objeto-livro que eles criaram para as minhas palavras, ficou absolutamente lindo. Eles também cuidam do marketing, mas como são uma editora relativamente jovem (ainda vão completar 5 anos) é claro que tento ajudar na divulgação. Uso o instaram para isso, e também pra me conectar às pessoas que gostam de ler em geral, porque comento muito sobre minhas leituras por lá. Gosto dessa comunicação. Desde que passei primeiro a participar e depois a mediar clubes do livro, percebi que a experiência de leitura cresce muito com a troca. Mas sobre o mercado editorial em geral, acho muito cruel e contraintuitiva a cobrança de que um escritor se dedique ao marketing. Escrever é solitário e requer tempo, introspecção e muita, muita leitura. Na minha opinião combina muito pouco com rede social.
Cursos de técnicas de escrita, já fez algum? Qual sua experiência?
Fiz vários, em diferentes formatos. Crescemos ao expor nosso trabalho à crítica de escritores nos quais confiamos e também ao acompanhar o trabalho de outro escritor ser desenvolvido. Essa troca mútua de críticas, sugestões e leituras ajuda a lapidar o texto.
Como é para você participar de feiras e eventos literários? Se não participou, me conta como faz para vender seus livros?
Embora eu seja natural do Rio e minha casa de verdade seja lá, neste momento estou em Portugal terminando um mestrado. Então estou afastada do mercado de feiras literárias do Brasil. Mas meus editores levaram meu livro à Feira Literária de Paraty e amei participar através deles. Ano que vem quero estar pessoalmente.
Físico ou e-book, me conta sua experiência como leitor e escritor.
Prefiro livro físico, mas acabo usando bastante o kindle também. Como estou em outro país temporariamente, tento não acumular muitos livros, então nisso o e-reader ajuda. Prefiro e-book quando o livro físico é muito grande, por exemplo, tem mais de 400, 450 páginas, porque quando estou lendo um livro eu o levo pra todo lugar, até supermercado, então fica difícil carregar.
Me fale do seu conto na coletânea Podletras. (sem spoiler) e como foi participar da seleção?
Tenho muitos contos produzidos e, ainda que pretenda lançar outros livros, nem todos entrariam num projeto destes, por várias razões, por exemplo, não se encaixarem tanto num tema em comum ou mesmo se afastarem um pouco do meu estilo habitual. Self-service é um conto assim, um conto um pouco mais bem humorado que o meu habitual, um pouco mais leve. Ainda assim, explora muito o não-dito, o que está por trás do aparente, as metáforas, pontos que valorizo muito na literatura.
Nele, um homem está num self-service e, enquanto tenta ter uma experiencia minimamente agradável de almoço, se lembra da consulta em que esteve no dia anterior, por causa de uma “feridinha” embaixo do saco. Embora estivesse sem graça de mostrar a ferida à médica, acabou enfrentando o constrangimento convencido pela namorada, Lucy, e agora está ali, comendo e tentando elaborar a experiência.
Para encerrar um bate bola
Autor preferido: Tenho vários. Se tiver que escolher um, fico com William Faulkner. Mas como romancista também citaria James Baldwin, Virgínia Woolf e Ariana Harwicz, uma escritora argentina atual que acho incrível. Como contista, Raymond Carver, Lucia Berlim, Denis Johnson, David Foster Wallace, Rubem Fonseca, Carmem Maria Machado, Elizabeth Strout, Alice Munro, Caio Fernando Abreu. Poesia: Sylvia Plath.
Livro de cabeceira: Olha, vou ser literal e te contar os livros que ficam ali na minha de cabeceira independentemente do que estiver lendo no momento (que agora por acaso é Por quem os sinos dobram, do Hemingway): a Bíblia, o Bhagavad Gita e Ariel, da Sylvia Plath. São três livros que gosto de ter à mão pra ler uma ou duas páginas fora de qualquer ordem, antes de dormir. A Bíblia e o Bhagavad Gita não por questões religiosas, mas porque acho a forma linda e o conteúdo enigmático.
Tomaria um chá com: tomaria um café com Emily Brontë. Me intriga como uma mulher tão jovem e que pouco saía de casa vivendo na época e lugar em que viveu, conseguiu escrever algo tão obscuramente lindo e visceral como O morro dos ventos uivantes. Adoraria saber o que mais corria dentro daquela cabeça genial.
Deveria existir: uma biblioteca com enorme diversidade de livros e gêneros, desde lançamentos a edições atuais dos clássicos em cada bairro de toda cidade. Ler não deve ser privilégio de alguns poucos.
Não deveria ter partido: Ah, todo mundo precisa partir, né? Curioso que entre os autores que citei como meus preferidos vários partiram cedo, como David Foster Wallace, Virginia Woolf, Sylvia Plath, mas também todos estes por vontade própria. Então vou ficar com a Emily Brontë; seria interessante ler mais dela.
O apocalipse vai acontecer: Cinco coisas que você não deixaria para trás: (são coisas e não pessoas)
Olha, tá aí algo em que nunca parei pra pensar em: Apocalipse. Bom, dependendo do tipo de apocalipse, não deixaria nada pra trás porque nem sairia da minha casa, preferia abrir um vinho e esperar o fim tranquila na minha sala ou simplesmente iria até a praia ver o mar pela última vez. Mas se for um destes apocalipses do qual é possível fugir, tipo apocalipse zumbi, não sei se a resposta esperada era algo literário, mas eu seria bem prática na minha escolha de itens, bota e capa impermeáveis, todo o estoque de medicamentos que encontrasse em casa, uma faca e o canivete multifunções do meu marido.
Fundamental para você como escritor, que vc não pode ficar sem. Não passo um dia sem ler. E se estiver lendo livro físico, preciso de lápis porque sublinho e tomo notas no livro todo.
Como escritor eu indico: (pode ser livro, outro escritor, canal do youtube, aplicativo, o que vc achar que fará diferente para outro escritor): buscar ativamente o que ler ao invés de se restringir ao que as grandes editoras fazem chegar até você. Elas se guiam por interesses comerciais e só apostam no que já está mais do que consagrado, raríssimamente buscam algo novo e tem muita coisa boa sendo escrita por aí.
Considerações finais. Fale de seus projetos e sonhos futuros. Tenho vontade de publicar um romance e um livro de poesias, estou trabalhando nisso. O que não significa que vá abandonar o conto, porque gosto muito desse gênero. Tenho planos de publicar mais livros de contos também.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |