Fale um pouco sobre você, deixe o leitor conhecer quem é sua pessoa.
Nasci em Santa Isabel, São Paulo, porém antes de completar um ano de idade me mudei com meus pais para Rolândia, uma cidade no interior do Norte do Paraná, da qual meu avô foi pioneiro e onde moro até hoje. Meu contato com a leitura aconteceu por meio de livros que ficavam disponíveis em uma estante glamourosa na sala de casa. Meu pai era leitor assíduo e eu, de certa forma, fui “contaminada” por esse hábito desde pequena. Meu primeiro contato com esse universo foi através de uma coleção de Contos de fadas que preservo até hoje com um talismã. Sou professora de formação, cursei Letras Vernáculas e Clássicas na UEL, fiz Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada e Doutorado em Literatura e Vida Social na Unesp, no campus de Assis. Atualmente leciono na Universidade, mas já tive experiência em todos os níveis de ensino, da Educação Infantil à Pós-Graduação. Também sou revisora, tradutora (do alemão para o português) e escritora.
O que te levou a ser escritora? Quais as expectativas quando começou a escrever?
Necessidade. Tive minha fase juvenil de “experimentar” os estilos literários, conforme aprendia na escola, mas o que sempre me moveu a escrever foi a necessidade de fazer isso. Tenho até hoje guardado um conto que redigi em tom bem dramático com base na difícil convivência que eu tinha com meu pai. Passar para o papel o que eu sentia sempre funcionou para mim como o melhor dos desabafos. Com o tempo, aprendi com grandes escritores(as) da literatura a transformar o que eu sentia em matéria bruta para fazer arte. Por isso meu objetivo maior quando escrevo é um só: desabafar. Diante do papel ou da tela do computador/celular, vejo a oportunidade de ressignificar a dor, o sofrimento, a angústia. É um processo difícil, porém restaurador e bem terapêutico, eu diria.
Se você for uma autora com outros trabalhos publicados, me conte um pouco da sua experiência, de como é a divulgação dos seus livros e contos. Você acha fácil a parte do marketing? Como estão suas expectativas hoje, referente ao mercado literário.
Estreei com o livro infantil TRIM! (2013), que escrevi com minha amiga Andreia Salviato. Depois dele, passei por um período de “deserto criativo” como costumo chamar, eu queria escrever, mas não me permitia. Debruçada na produção científica que a função de professora universitária exige, cheguei a pensar que eu estava fadada a refletir e estudar a respeito da obra dos outros para sempre. Ledo engano. Em 2021, a convite de minha amiga Marcia Paganini, tive a oportunidade de traduzir com ela o livro de contos Numa pensão alemã, de Katherine Mansfield. Dois anos depois participei de um concurso literário de Contos Infantis SESC/PR e tive o meu texto todo inspirado na infância da minha mãe em Rolândia, “A pergunta de Lomi”, selecionado dentre os dez para compor a coletânea. A partir desse momento, minha necessidade de escrever retornou com força e, desde então, não parei mais. Em 2024, tive duas obras publicadas: A costureira e o jardineiro, pela Editora Alumbre, e Lembra-não-lembra, pela Editora ABC, que ganhou em primeiro lugar para compor a Biblioteca Digital Gralha Azul, e em breve terei o conto “Seis vidas” publicado pelo Podletras. Sem contar com minha tese de doutorado A realeza no Nordeste: releituras dos contos de fadas no romance de cordel, que publiquei também em livro físico e digital pela Dialética, no fim de 2023. A divulgação dessas obras tenho feito de forma intuitiva e pontual. Os livros vencedores de concurso no Paraná divulgo os formatos gratuitos em ebook e áudiobook de forma orgânica nas redes sociais. Já os demais, ainda que estejam disponíveis para venda no site da Editora Alumbre (com exceção do TRIM! que só vendo presencialmente), tenho realizado as vendas no “tete a tete”: em minhas aulas na universidade, em cursos que ministro eventualmente, em contações de histórias que realizo em Rolândia mesmo ou região, nos lançamentos. Enfim, a maior parte das vendas tem sido realizada por mim mesma. Acabo exercendo organicamente todas as funções: marketing, transação comercial, logística. A editora oferece suporte, claro, mas como meu público-leitor acessível tem sido família, amigos, alunos e colegas de profissão, a venda personalizada tem sido a melhor saída. É um desafio vender assim, pois vai na contramão das facilidades tecnológicas e da agilidade digital, porém, para o momento, é o que consigo e curto fazer. Afinal, entregar o livro pessoalmente na casa de um(a) futuro(a) leitor(a) me permite receber um feedback instantâneo presencialmente e, em alguns casos, ainda levar a fonte de inspiração do livro (no caso minha mãe, para a entrega de A costureira e o jardineiro, que escrevi em homenagem aos meus pais. Diante desse movimento tão pouco atual, minha expectativa é poder, aos poucos, encontrar um espaço (ainda que pequeno) no mercado literário, porém sem perder a oportunidade de realizar vendas presenciais. Afinal, vale mais dez livros entregues em mãos do que cem adquiridos no frio clique de um site.
Cursos de técnicas de escrita, já fez algum? Qual sua experiência?
Não.
Como é para você participar de feiras e eventos literários? Se não participou, me conta como faz para vender seus livros?
Até o momento, participei de dois eventos como escritora: o lançamento da Coletânea de Contos Infantis do SESC/PR e o de Vivência Literárias, da Biblioteca Digital Gralha Azul, ambos de autores residentes ou nascidos no Paraná. Como, em ambos os casos, a produção dos livros é gratuita eles não precisam ser comercializados, só me resta divulgar os formatos ebook a audiobook pelas redes sociais.
Se você mora fora da conexão Rio/ São Paulo, me conta como é participar de eventos literários.
Ainda que eu tenha nascido em São Paulo, o estado onde nasci, cresci e estou envelhecendo é o Paraná, por isso tenho buscado me inserir na cena literária desse universo. Como nunca participei de eventos literários no eixo Rio/São Paulo então não posso estabelecer um paralelo, mas posso dizer que participar de eventos aqui significa deslocar-se a cidades maiores, algumas mais próximas de Rolândia, como Londrina e Maringá e outras mais distantes, como Curitiba e Ponta Grossa. Como meu ingresso no campo dos escritores literários é recente, é assim que tenho conseguido expandir o público leitor, aos poucos, primeiro em Rolândia mesmo, a cidade que me acolhe desde pequenina, depois para outras localidades. Acredito que o reconhecimento de quem está longe mal te conhece é sim muito válido, mas isso ganha ainda mais sentido se conquistado também pelos mais próximos. Afinal, são minhas raízes e é a elas que me volto, sempre que escrevo, pois fazem parte de quem eu sou, da minha essência.
Físico ou e-book, me conta sua experiência como leitora e escritora.
Gosto muito dos dois, porém tenho uma relação específica com cada um. Ao ebook recorro em três momentos da minha vida: 1) quando viajo e quero fazer leituras de forma prática e sem ocupar espaço, 2) para indicar e realizar leitura de textos completos com meus alunos; 3) quando preciso de material de estudo para escrever texto científico ou participar de concurso/teste seletivo em minha área de atuação (literatura). Para mim, o ebook é um instrumento poderoso de democratização do conhecimento e do prazer pela leitura. Já o físico não perderá seu glamour jamais! Sempre haverá espaço na estante e no meu coração para a leitura de um bom e velho livro concreto, daqueles que a gente pega, cheira, alisa e depois degusta. Enquanto escritora, tento transmitir exatamente a experiência que tenho como leitora: o apreço por ambos os suportes, ainda que cada qual contenha seu encanto.
Me fale do seu conto na coletânea Podletras (sem spoiler) e como foi participar da seleção?
Meu conto selecionado para a coletânea foi o “Seis vidas”, que traz o relato das relações difíceis entre uma família, com um pai violento, uma mãe submissa e quatro filhos reprimidos pelo medo. Ainda que seja narrada da perspectiva de um narrador observador, aparentemente distante dos fatos, a história contém uma esfera bem intimista, pois relata os conflitos entre as personagens e o que eles provocam no interior de cada uma delas. Isso acontece porque, no fundo, tudo o que escrevo parte do que vivencio e da minha necessidade constante de ressignificar. Esse conto é, em última instância, o retrato da minha família.
Para encerrar um bate bola
Autor preferido: Lygia Bojunga Nunes
Livro de cabeceira: A bolsa amarela
Tomaria um chá com: Sigmund Freud
Deveria existir: Alice (de Lewis Caroll)
Não deveria ter partido: Ariano Suassuna
O apocalipse vai acontecer: Cinco coisas que você não deixaria para trás: (são coisas e não pessoas): Meus cincos livros.
Fundamental para você como escritora, que vc não pode ficar sem: Vontade.
Como escritor eu indico: Em cima da hora, de Roger Mello (uma maneira envolvente de compor uma narrativa)
Considerações finais. Fale de seus projetos e sonhos futuros: Os sonhos podem ser resumidos a um: continuar escrevendo conforme a necessidade solicitar e, na medida do possível, publicar o resultado disso a leitores(as) interessados(as) em experimentar algo novo ou reviver algo por meio da leitura. Já os projetos tenho alguns em andamento (que volta e meia param por conta de demandas mais urgentes), como traduzir do alemão: as memórias de meu avô sobre sua vinda da Alemanha para o Brasil o período entre as duas Grandes Guerras Mundiais, contos dos irmãos Grimm, escrever um romance não muito longo, com cara de conto espichado.
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